quarta-feira, 6 de maio de 2009

Fontes

Já estou na redação do Inquirer recebendo treinamento no sistema de computadores deles e acompanhando alguns repórteres em pautas. Fiz duas dessas empreitadas, que contarei mais adiante. Quando chegar em casa, postarei fotos da redação também.

Minha primeira diversão do dia foi ler o jornal, que é vetusto, standard e muito sério, todinho. O tamanho médio de matérias é muito maior do que o nosso padrão no Brasil. Eles escrevem muito mais; mesmo no USA Today, que usa gráficos muito mais do que os outros, os textos são enormes.
Como escrevem muito, têm de ouvir muitas fontes para colocar na matéria. Esta aqui é sobre como as universidades da região estão de olho em uma bolada - US$ 10 bilhões - em recursos para pesquisas médicas prevista no plano de estímulo à economia do Obama. O gancho é que os institutos de pesquisa estão inscrevendo projetos em massa para conseguir recursos. Natural.
A notícia não é grandes coisas, mas ganhou duas colunas na capa e meia página standard dentro - e isso é muito texto, companheiro. Que foi preenchido com sete fontes. Além do National Institute of Health, que vai dar a grana, ouviram a universidade da Pennsylvania (principal aqui) e um senador que ajudou a incluir os recursos no pacote de estimulo do Obama. Ouviram também quatro diretores de institutos de pesquisa da universidade - no nosso dia-a-dia corrido, provavelmente escutariamos só o reitor da Medicina, sem ter o luxo de conversar com outros quatro.
Essa é a parte boa: eles tem por padrão ouvir muita gente. A matéria não foi feita em um dia por causa disso. Ouvindo mais gente, aumenta a chance de conseguir boas histórias. A parte ruim é quando toda essa gente fala quase a mesma coisa. O que era o caso desta matéria, que ficou repetitiva.
A matéria é chata porque tem muita gente falando? Talvez. Seria o caso de reduzir o número de vozes? Certamente sim, a se considerar só a fluência do texto. Mas aí vem outra questão. Se tu falou com 4 institutos diferentes de pesquisa e os coloca na matéria, o leitor sabe que tu reporteou bastante e entende do assunto. Transparência dá credibilidade.
Uma tendência que ouvi bastante na universidade é a de usar a internet para publicar cada vez mais informações sobre como tu obteve as informações. Se o National Institute of Health manda uma lista dos repasses de verbas, não basta só reformatar e publicar na matéria: coloque-se a lista original para o leitor tirar seus próprios dados. Mesmo que ele não faça nada disso, passa mais confiança; se ele não quiser acreditar na tua palavra, basta consultar a fonte original. Ouvi na Universidade do Missouri um professor dizendo que aconselha às vezes inclusive escanear o bloco de notas do repórter - completa pirotecnia didática, mas o exagero também ajuda a passar a mensagem.
Esse equilíbrio entre a precisão, a transparência e o bom texto sempre foi difícil de achar. Entupir em 30 centímetros de texto as 10 fontes que às vezes são necessárias para se ter certeza do que se escreve, mais difícil ainda. Mas é o que precisamos melhorar. E, para eles, falta mais do que para nós.

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