terça-feira, 28 de abril de 2009

Tuitar ou não tuitar

Participamos hoje de uma aula de jornalismo aqui na faculdade para falar aos alunos sobre a imprensa em cada um de nossos países. Antes de subirmos no palco do auditório para responder às questões, a professora tratou do Twitter.
No começo do semestre, ela pediu que todos os alunos fizessem uma conta no Twitter. Eu estava quase achando estranho que uma professora acima dos 40 anos tenha de pedir para uma gurizada de 20 usar uma ferramenta de internet. Mas lembrei que meu amigo Tiago Ritter também fez isso com sua turma na PUCRS e boa parte dos alunos não tinha Twitter ainda.
Talvez a minha geração tenha se acostumado a confiar demais na gana dos jovens por novidades. A conversa durante a aula girou em torno do que se pode fazer de legal usando o twitter no jornalismo. Surpreendentemente, ouvi muito mais comentários negativos do que positivos. Coisas que eu esperaria ouvir de mim mesmo ou de meus amigos trintões: "Twitter é cheio de porcaria", "por que eu vou querer saber tudo o que os outros estão fazendo?", "duvido que seja mesmo o John McCain que posta no twitter dele".
Não me surpreendeu o conteúdo dessas frases - na verdade, muitas vezes concordo com elas -, mas o tom. Reacionário. Os professores deram muito mais ideias de como melhorar o jornalismo usando o Twitter do que os alunos. Na redação, também vi muita gurizada se puxando em reportear (o que é bom) e pouco, muito pouco, em ter sacadas multimídia. Cadê a juventude que ia mudar o mundo?, parafraseio.
Evidentemente, Twitter não é jornalismo por si só. Pode ser uma boa ferramenta - ontem, a polícia da Philadelphia começou a investigar um caso de brutalidade policial depois de ficar sabendo pelo Twitter de um vídeo que registrou o caso. Mas como usá-lo bem ainda está em aberto: só para fazer o marketing das nossas matérias? Para pedir ajuda aos leitores? Para procurar fontes? Para saber o que as pessoas andam falando a respeito? Todas as alternativas anteriores?

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Health Journalism

Hoje tivemos uma palestra com um cara chamado Jeff Porter, da Association of Health Care Journalists. É uma associação de jornalistas especializados em matérias de saúde pública.
Americanos adoram associações. Nestas 2 semanas e pouco, já conheci integrantes da associação dos jornalistas investigativos, dos jornalistas que usam Computer Assisted Reporting, dos jornalistas globais e dos defensores da liberdade de informação. Nessas entidades, eles costumam trocar ideias e indicar fontes uns para os outros, por exemplo.
Em tempos de gripe suína, foi uma coincidência interessante. Ele nos passou várias dicas de fontes legais na internet sobre saúde em geral e também sobre essa questão dos porquinhos. A que mais me impressionou foi a seguinte:

www.healthnewsreview.org
Esse site mantém uma equipe de médicos e pesquisadores que analisam as matérias sobre saúde que saem nos principais órgãos de imprensa. Quando tu escreve sobre uma doença ou sobre um tratamento ou droga novos, eles avaliam o trabalho do repórter, com quesitos objetivos. Esta aqui, sobre vasos sanguíneos feitos com células dos pacientes, ganhou só três estrelinhas - os avaliadores não ficaram satisfeitos com as evidências apresentadas e nem com a quantificação dos benefícios e males potenciais.
Não deve ser muito legal para um repórter de saúde ler avaliações feitas por médicos sobre seu trabalho. Normalmente, opiniões de especialistas a respeito das nossas matérias são detalhistas e duras - técnicos não gostam das generalizações que repórteres precisam fazer. Mas esse tipo de vigilância sobre nosso trabalho é algo a se comemorar, por mais desagradável que seja. Para o Porter, ao utilizar os mesmos critérios de avaliação ao longo do tempo, o sistema ajuda o leitor a reconhecer bons trabalhos e os jornalistas a melhorar suas matérias.

De lambuja, mais uns linquezinhos sobre saúde:

www.cdc.gov - Centers for Disease Control and Prevention. Com a atualização dos casos de gripe suína, por exemplo.

www.healthmap.org - Um mapa das notícias sobre doenças no mundo: clicando em uma localidade, são mostrados os links para as matérias publicadas sobre uma determinada doença.

www.healthjournalism.org - É o site da associação de jornalistas de saúde. Custa US$ 60 por ano, e sócios têm acesso a diversos bancos de dados sobre o assunto, além de contato com cerca de mil outros repórteres.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Newsy.com


Para seguir na pilha de novas salas de redação, fui hoje conhecer o Newsy. É um site que produz notícias em vídeo a partir de variadas fontes internet afora.
A ideia é ser um site que monitore e sintetize a cobertura de notícias mundo afora, apresentando-as com uma variedade maior de fontes. Basicamente, eles pegam as notícias de televisões, jornais e sites e reapresentam em um vídeo mostrando os diversos lados da mesma moeda.
Com uma equipe pequena e formada basicamente por estudantes, o Newsy tem fôlego para colocar no ar até oito histórias por dia. É basicamente um trabalho de definir quais fatos serão cobertos e vasculhar a internet em busca de versões diferentes, para depois formatar em um vídeo. A equipe é formada basicamente por estudantes, gerenciados por dois profissionais mais experientes. O vice-presidente, George Schellenger, ex-AOL Time Warner, diz que o projeto é oferecer uma forma de agregar notícias de interesse geral sem o uso de robôs, como no Google News, por exemplo. O trabalho de organizar a bagunça, mostrar os fatos e apontar onde é possível saber mais fica melhor quando feito por humanos, acredita. A regra geral é dar diferentes pontos de vista para a mesma coisa: CNN e Al Jazeera, BBC e ABC.
O desafio do momento, obviamente, é como se pagar. O custo inicial de US$ 1 milhão foi obtido junto a um conjunto de investidores: o Newsy ainda não fechou nenhum contrato de publicidade. Enquanto isso, a equipe aposta em marketing viral para ampliar o número de leitores.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Columbia Missourian

A primeira postagem desse blog vem com uma foto da reunião matinal de pauta do Columbia Missourian - jornal da faculdade de jornalismo da Universidade do Missouri, na cidade de Columbia.
Eles fazem reuniões diárias com toda a redação às 11h, com meia hora de duração. Todos os repórteres que estão na redação participam, e alguns editores também.
É um jornal da faculdade, mas que cobre a cidade toda. Os editores são todos professores da faculdade e os repórteres, todos estudantes. Ou seja, é um jornal em que os repórteres pagam para trabalhar. Tem estrutura comercial e tenta se pagar - há algum tempo, vem dando prejuízo, como tudo o que é de papel. Mas ainda tem orçamento garantido para circular pelo menos mais uns três anos como impresso.
Eles, porém, estão se voltando para a internet e tentando implantar uma cultura de redação focada para o online. "Web first" é a palavra que eu mais escutei dos editores-professores aqui. Mas mesmo os alunos têm certa dificuldade de pensar nos deadlines da internet: todos querem fechar a matéria para o jornal.
Vou ficar aqui por uma semana acompanhando o trabalho da gurizada. Me colocaram como dupla do Roberto Barros - 19 anos, gaúcho e gremista, estudante de jornalismo em Londres que está aqui desde janeiro em um intercâmbio. Ele está encarregado de alimentar uma iniciativa bem interessante. Com foco intenso na comunidade, o Missourian mantém uma seção online que mostra a geografia dos crimes na cidade. Basicamente, alguém (nesta semana, o Roberto) vai à central de polícia e anota todas as ocorrências dos últimos dias. Depois, alimenta um banco de dados que gera um mapa da criminalidade na cidade. Vejam aqui como fica.
A ideia geral é mostrar para a comunidade exatamente onde os crimes acontecem e que tipo de problema o teu bairro mais tem. Para o repórter, é fácil: basta andar 3 quadras até a delegacia, pegar uma pasta onde está escrito "ocorrência para uso da mídia" e copiar os relatórios, onde consta data, hora, crime e quem foi preso (se foi). Ontem, uma moça prestou queixa porque alguém jogou uma salada no pára-brisa do seu carro. Ela desconfia ser seu ex-namorado.
Até que ponto vale a pena gastar recursos na manutenção de um levantamento como esse, é opção de cada redação. Mas levanta um ponto: cidadão algum se prestaria a colocar os dados da pastinha em um mapa para ver qual rua é mais perigosa. Tarefas chatas como essa são, também, o nosso papel.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Bem-vindos

Ao ser escolhido para receber uma bolsa da Alfred Friendly Press Fellowships para passar seis meses nos Estados Unidos trabalhando como repórter em uma grande redação americana, muita coisa passou pela minha cabeça, mas uma das poucas que não envolviam interjeições e palavras de baixo calão foi:
É o melhor momento para um jornalista estar nos Estados Unidos.
Primeiro ano do Obama, crise financeira, recessão; jornais fechando, internet bombando, incertezas sobre o futuro. Se 2009 vai ser o 1929 da imprensa (ou o 11/9), não se sabe. Mas o que está acontecendo agora vai ser decisivo para moldar o jornalismo do século 21.
Nesse blog, vou mostrar o que eu consigo ver daqui. Internet afora, tem muita gente ótima debatendo a big picture. Mas sempre é bom ver um closezinho de vez em quando, né?
Até o começo de maio, são uns closes do jornalismo em Columbia, Missouri - cidade-sede da faculdade de jornalismo mais antiga dos EUA, onde estou fazendo um seminário de orientação no Reynolds Journalism Institute, afiando as unhas para aportar na redação do Philadelphia Inquirer no dia 4.
Para quem está curioso sobre essas coisas, fique por aqui. Abraços!